Nota de Repúdio
A Organização e os participantes do I Simpósio de Literatura Paraense- Pescadores de Palavra; poesia e prosa na rede do Norte protestam contra a derruba do declarado Patrimônio de história e cultura do Pará, a casa de Dalcídio Jurandir em Cachoeira do Arai, o famoso “chalé” do Ciclo do extremo Norte.
O Chalé...
partiu, sim!
Não há declínio — somente transformação...
Este foi a convicção do jovem, poeticamente talentoso paraense Dalcídio
Jurandir (1909-1979) quando saiu da Ilha de Marajó. Deixou atrás o
chalé: “Voltar para o chalé era, muitas vezes, ter de olhar na saleta o
vulto de Eutanázio sozinho com aquela cara amarrada [...] Alfredo por isso
queria sair daquele chalé onde o vento vem bater nas janelas, sacudir as
redes, bulir com os catálogos do Major Alberto. Quando as chuvas voltavam,
então era que D. Amélia sentia mais desejos de levar Alfredo para
Belém” (Chove nos Campos de Cachoeira, a 7ª. edição vai sair em
breve, no Rio de Janeiro).
Deixou atrás sua infância, naquele chalé, o lugar central das suas
reflexões narrativas, alguns anos mais tarde. O jornalista tornou-se
escritor e se deteve em narrar os sonhos de uma sociedade. Como ele mesmo
disse, os temas de seus romances “vêm do meio daquela quantidade de
gente das canoas, dos vaqueiros, dos colhedores de açaí”. Os sonhos
eram como “passarinhos revoam em torno do chalé. O caroço de tucumã
já imaginou que os passarinhos moravam no chalé. Ficavam livres do
gavião, do fogo dos campos e da baladeira dos moleques”.
Sem escolaridade completa, Dalcídio, filho de pai descendente de
portugueses e de mãe descendente de escravos, tentou a sorte como viajante
clandestino para o Rio de Janeiro aos 19 anos. Depois de nem um ano, voltou
ao Amazonas e conseguiu emprego como funcionário municipal em Gurupá
(PA), onde escreveu seu primeiro esboço de romance (1929). Uma pequena
cidade em declínio como toda a região, um afundamento das várias
esperanças, não só dos barões de borracha, esperanças da gente simples
ganhar a vida de forma melhor, esperanças dos intelectuais e engajadas
sobre uma época mais democrática.
Depois de uma década de resgate literário e cultural, depois do
Centenário do escritor, o chalé foi tombado Patrimônio Histórico e
Cultural, no dia 24 de dezembro de 2010, mas nem o “Menino Deus no colo
de Guíta” ajudou...
“O chalé é uma ilha batida de vento e chuva”, mas a banalidade da
vida real acabou com aqueles sonhos, aqueles esperanças de ter um lugar de
comemoração da cultura paraense: o chalé foi demolido. O chalé desistiu
o vento, a chuva; o acapu resistiu fortemente o tempo, mas não resistiu a
mão do dono atual do chalé... acabou com aquilo que se poderia tornar
marca da história literária e cultural do Pará, do Brasil e do mundo
para sempre...
Prof. Dr. Gunter PresslerUFPA
partiu, sim!
Não há declínio — somente transformação...
Este foi a convicção do jovem, poeticamente talentoso paraense Dalcídio
Jurandir (1909-1979) quando saiu da Ilha de Marajó. Deixou atrás o
chalé: “Voltar para o chalé era, muitas vezes, ter de olhar na saleta o
vulto de Eutanázio sozinho com aquela cara amarrada [...] Alfredo por isso
queria sair daquele chalé onde o vento vem bater nas janelas, sacudir as
redes, bulir com os catálogos do Major Alberto. Quando as chuvas voltavam,
então era que D. Amélia sentia mais desejos de levar Alfredo para
Belém” (Chove nos Campos de Cachoeira, a 7ª. edição vai sair em
breve, no Rio de Janeiro).
Deixou atrás sua infância, naquele chalé, o lugar central das suas
reflexões narrativas, alguns anos mais tarde. O jornalista tornou-se
escritor e se deteve em narrar os sonhos de uma sociedade. Como ele mesmo
disse, os temas de seus romances “vêm do meio daquela quantidade de
gente das canoas, dos vaqueiros, dos colhedores de açaí”. Os sonhos
eram como “passarinhos revoam em torno do chalé. O caroço de tucumã
já imaginou que os passarinhos moravam no chalé. Ficavam livres do
gavião, do fogo dos campos e da baladeira dos moleques”.
Sem escolaridade completa, Dalcídio, filho de pai descendente de
portugueses e de mãe descendente de escravos, tentou a sorte como viajante
clandestino para o Rio de Janeiro aos 19 anos. Depois de nem um ano, voltou
ao Amazonas e conseguiu emprego como funcionário municipal em Gurupá
(PA), onde escreveu seu primeiro esboço de romance (1929). Uma pequena
cidade em declínio como toda a região, um afundamento das várias
esperanças, não só dos barões de borracha, esperanças da gente simples
ganhar a vida de forma melhor, esperanças dos intelectuais e engajadas
sobre uma época mais democrática.
Depois de uma década de resgate literário e cultural, depois do
Centenário do escritor, o chalé foi tombado Patrimônio Histórico e
Cultural, no dia 24 de dezembro de 2010, mas nem o “Menino Deus no colo
de Guíta” ajudou...
“O chalé é uma ilha batida de vento e chuva”, mas a banalidade da
vida real acabou com aqueles sonhos, aqueles esperanças de ter um lugar de
comemoração da cultura paraense: o chalé foi demolido. O chalé desistiu
o vento, a chuva; o acapu resistiu fortemente o tempo, mas não resistiu a
mão do dono atual do chalé... acabou com aquilo que se poderia tornar
marca da história literária e cultural do Pará, do Brasil e do mundo
para sempre...
Prof. Dr. Gunter PresslerUFPA